Sair da zona de conforto é algo que eu entendo bem. Ser empurrada para fora dela, mais exatamente. Acho essa uma ótima forma de descrever a situação que me permitiu olhar além da carreira que eu vinha seguindo até ali, o momento que minha chave virou (a primeira demissão da minha vida). Quando isso aconteceu, eu já não tinha mais 20 anos. Ter essa maturidade a mais naquele momento me fez questionar: será que existe uma idade certa para empreender?
Pensar que a busca por um negócio próprio com significado não depende de quantas velas você apagou do seu bolo de aniversário naquele ano foi uma das minhas motivações para começar o meu empreendimento.
Ainda existe essa ideia de que há um limite de idade para realizar coisas importantes na vida. Ou então um número máximo de conquistas que você pode ter depois de ultrapassar a já temida “meia idade”.
Acreditar que não ter mais 20 anos é sinônimo para resignar-se e não buscar mais nada de novo é muito comum entre aqueles que já passaram dos 50. E existem muitos motivos que sustentam essa crença, como:
– O quanto o mundo mudou nos últimos anos;
– A dificuldade de adaptação com as novas formas de funcionamento do mercado de trabalho;
– Medo de não ser mais levado a sério por fazer parte de uma geração diferente;
Mas nada disso deveria impedir que você busque e conquiste novas coisas. E foi pensando em passar essa mensagem que conversei com 3 pessoas maravilhosas que provam que não existe idade certa para empreender e que você pode, sim, ter uma carreira de propósito na maturidade.
Por que sair da zona de conforto?
É muito comum achar que, passado determinado número de aniversários, você deve contentar-se com o que já tem e não precisa mais buscar experiências novas na vida. Afinal, a grande vantagem de passar dos 50 é não precisar correr mais riscos, certo? Errado!
O período depois dos 50 anos não é chamado de “melhor idade” à toa! Mas muitas pessoas ainda precisam descobrir que este período também serve para abrir um leque totalmente novo de oportunidades. E hoje, uma das principais é o empreendedorismo.
Ter o seu próprio negócio já foi uma empreitada muito complexa, que requeria diversos procedimentos burocráticos somente para começar a colocar a sua ideia em prática. Mas, no mundo digital em que vivemos hoje, é totalmente possível pular várias dessas etapas e conseguir um retorno mais rapidamente, seja ele financeiro ou de significado.
Mas ter algo que sirva como motivação inicial para dar o primeiro passo é essencial, especialmente se você já está parado há algum tempo.
Motivação
Para a consultora de TI e terapeuta de 61 anos, Shirley Nascimento, a motivação em buscar coisas novas é algo que existe nela desde sempre. “Aposentar não está no meu dicionário, mas a idade chega e nada como poder pensar em fazer algo de modo independente e que venha a contribuir e compartilhar uma experiência de vida”, conta ela.
A busca por significado e propósito nesta fase da vida é outro dos principais motivadores que levam ao empreendedorismo, como me contou o empreendedor digital, Mauro Sato, de 60 anos. “Empreender tem para mim muitas dimensões que vão além da necessidade da sobrevivência financeira. O ato [de empreender] abre a possibilidade de realizar algo com significado, que possa ser uma contribuição real, um legado para a vida, ajudando outras pessoas”, explica ele.
Provar que ainda podia fazer qualquer coisa foi o que inicialmente tirou a coach de emoções femininas, Helga Feres, de 53 anos, de sua zona de conforto. Mas ela encontrou novos combustíveis ao longo do caminho. “Inicialmente achei que minha motivação estava ligada ao sentimento de provar que ainda podia. Hoje aprendi que é algo maior que sentimento: é desejo de ir além do que dita a sociedade, na qual ter 50 é ser velho e ultrapassado”, relata ela.
Pedras no caminho?
Precisar romper com papel que a sociedade acaba atribuindo às pessoas que já tem mais maturidade e experiência de vida pode ser uma dificuldade para quem deseja empreender, mas já não é tão jovem. Foi o que aconteceu com a coach Helga. Após vencer as limitações que ela mesma criou para si, precisou enfrentar as impostas pela sociedade.
“Vencer as limitações que os outros criavam para mim e eu acreditava que existiam e entender como tirar o melhor proveito da tecnologia e transformar isso em renda”, cita ela como os dois principais obstáculos no seu processo de redescobrimento.
Aprender a separar o que era positivo do que não agregaria nada a ela foi uma das “pedras no caminho” citadas pela consultora Shirley. “A maior dificuldade foi selecionar quais experiências poderiam ser úteis para essa geração selfie. Outra foi ter um propósito claro e definido para deixar um legado e poder ajudar muitas pessoas”, completa ela.
Redescobrir maneiras de lidar com os fracassos foi uma das dificuldades enfrentadas pelo empreendedor Mauro em sua jornada empreendedora. “Lidar com a frustração dos projetos que não ‘vingaram’; buscar “nova energia” para prosseguir; dizer “não” aos muitos projetos e ideias que surgem a todo instante; manter o foco nas atividades diárias”, elenca ele.
Não existe idade certa para empreender
O empreendedorismo é uma das profissões mais democráticas do mundo hoje. Normalmente visto por muitos como o ponto de partida para adentrar no mercado de trabalho fora da posição de funcionário, empreender também é uma ótima possibilidade para quem deseja uma reinserção com propósito e significado após muito tempo colaborando com outras empresas.
Perguntei aos entrevistados o que eles gostariam de dizer a quem tem mais de 50 anos e quer entrar no universo do empreendedorismo e manter-se na ativa. As respostas:
“A vida não acaba quando nos aposentamos. Ela apenas nos propicia trabalhar com coisas de maior valor humano, com mais amor e liberdade.”
– Shirley Nascimento, 61 anos
“Aceite que ser seu próprio negócio inicialmente vai dar medo de exposição, da critica e da comparação. A sacada está em ser criativo com o ‘ser sua própria vitrine'”.
– Helga Feres, 53 anos
“Comece logo e não desista!”
– Mauro Sato, 60 anos
*Agradecimentos especiais aos empreendedores que contribuíram para o texto: Shirley Nascimento, Helga Feres e Mauro Sato
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